O abandono escolar continua a ser um problema em muitos países, incluindo em Portugal. Apesar da melhoria substancial verificada nos últimos anos, ainda é preciso melhorar por tudo o que este tema implica em termos de futuro dos envolvidos e da própria sociedade.
Quando falamos em abandono escolar precoce estamos a referir vários tipos de situações associadas à saída da escola.
Pode, por exemplo, tratar-se de um aluno que se matricula no início do ano letivo, mas que sai da escola antes de este terminar. Mas também envolve os que já nem se matriculam em qualquer escola.
Portanto, estão em causa jovens que não completam a sua formação, seja ela de âmbito básico, secundário ou superior.
Esta saída prematura da escola é um problema grave, com consequências negativas para a vida de cada pessoa envolvida, mas também para a sociedade como um todo. É, antes de mais, um fator que agrava as desigualdades sociais, pois complica o acesso às melhores oportunidades de emprego.
Mas o que explica, afinal, que ainda exista este problema?
Abandono escolar: causas e consequências
Há vários fatores que podem contribuir para o abandono escolar, a começar pelas questões socioeconómicas. Os jovens oriundos de famílias com maiores dificuldades financeiras, ou com baixos níveis de escolaridade, têm maiores probabilidades de deixar a escola mais cedo.
Isto deve-se, em parte, à falta de incentivo dos pais que tentam antes motivar os filhos para irem trabalhar, seja por precisarem de ajuda financeira, seja por não acreditarem na importância da escola.
Por outro lado, é difícil pensar na escola quando há problemas relacionados com direitos básicos como a habitação e a alimentação. Em condições difíceis, o abandono escolar torna-se quase uma inevitabilidade.
Mas há ainda que considerar questões de foro mais pessoal, por exemplo, dificuldades de aprendizagem ou inadequação ao sistema escolar. E se pensarmos no ponto anterior, nem todos os pais podem pagar explicações para ajudarem os seus filhos.
Problemas de saúde mental, como a depressão e a ansiedade, também podem promover a saída precoce da escola.
O bullying é outro fator que leva ao abandono escolar, até porque promove sentimentos de insegurança e baixa autoestima.
5 Consequências péssimas
Como é evidente, o abandono escolar prejudica de forma flagrante as pessoas que passam por isso. E as principais consequências são as seguintes:
Piores oportunidades de emprego
Salários mais baixos
Maior probabilidade de desemprego
Mais problemas de saúde
Aumento dos comportamentos de risco, como consumo de drogas e álcool.
No fundo, o abandono escolar reduz as possibilidades de a pessoa melhorar as suas condições de vida. E isso, só por si, pode perturbar a saúde mental, gerando sentimentos de frustração e desmotivação. O futuro mais incerto também aumenta os níveis de ansiedade e de stress.
Em termos sociais, as consequências do abandono escolar passam por uma menor produtividade e por maior desigualdade social. Associado a este aspeto pode também estar um aumento da criminalidade.
Taxa de abandono escolar em Portugal
Nos últimos anos, a taxa de abandono escolar em Portugal, caiu de forma significativa e em 2022, atingiu mesmo um "mínimo histórico", segundo uma comunicação do Governo.
Este comunicado divulgado em maio do ano passado, referia um valor de 5,1% no todo do país, e de 4,5% apenas em Portugal continental, excluindo Açores e Madeira. Mas estes números referiam-se apenas ao primeiro trimestre de 2022.
Considerando o ano por completo, a taxa de abandono escolar em Portugal, foi de 6% em 2022, de acordo com dados do PORDATA e do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Esta informação indica que 6% dos jovens portugueses, com idades entre os 18 e os 24 anos, não terminaram o Ensino Secundário, nem estudaram ou fizeram qualquer tipo de formação naquele ano.
Apesar de tudo, o valor é muito positivo, pois reflete uma queda no abandono escolar pelo 17º ano consecutivo. Desde 2006, quando esta taxa se situava nos 38,5%, a tendência de descida tem sido constante.
Recuando um pouco mais no tempo, em 1992, o abandono escolar em Portugal era de 50%, o que é bem revelador de como as coisas mudaram.
Taxa de abandono escolar por município
O abandono escolar está associado a fatores socioeconómicos e, por isso mesmo, é natural que a taxa mude de município para município. Em 2022, e segundo dados do INE, as localidades com uma taxa de abandono escolar mais alta foram as seguintes:
Setúbal - 12,7%
Faro - 11,9%
Bragança - 11,8%
Castelo Branco - 11,7%
Aveiro - 11,6%.
Em sentido contrário, os municípios com taxas de abandono escolar mais baixas foram os seguintes:
Lisboa - 4,3%
Porto - 4,6%
Amadora - 4,7%
Vila Nova de Gaia - 5%
Oeiras - 5,1%.
É possível perceber, nos dados gerais do INE, um padrão que reflete taxas mais baixas no centro e nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, e mais elevadas nas regiões do Alentejo e Algarve, e no norte do país.
Mas o que explica estas diferenças? Vários aspetos podem contribuir para isso, designadamente as divergências quanto aos níveis de pobreza e de exclusão social dos municípios.
Como é óbvio, estas questões estão intimamente ligadas ao abandono escolar. Portanto, quanta mais pobreza e exclusão social, mais jovens deixam a escola de forma precoce.
Contudo, também é preciso considerar a qualidade das escolas e do ensino, bem como os apoios para os jovens em risco de abandono escolar que ajudam a diminuir o problema.
Abandono escolar no ensino superior
A taxa de abandono escolar no ensino superior em Portugal foi de 12% em 2022, de acordo com os dados do INE.
É um valor superior à média global que pode surpreender, mas que indica que 12 em 100 alunos que entraram na Universidade, naquele ano, não concluíram a licenciatura que iniciaram.
As causas são semelhantes às já mencionadas, mas, muitas vezes, tem também a ver com expetativas defraudadas pelos cursos que escolheram. Pode estar em causa alguma desorientação vocacional, ou uma ideia errada do que determinada profissão implica, ou ainda das próprias competências.
Em todo o caso, isso acaba por afetar o percurso profissional dos estudantes, uma vez que, tendo menos qualificações, terão acesso a oportunidades de emprego mais mal pagas. Além disso, serão menos valorizados pelos potenciais empregadores.
Soluções para o abandono escolar
Mas, então, como combater o abandono escolar? Há várias medidas que se podem tomar neste âmbito, a começar por investir na educação, para melhorar a qualidade do ensino.
Também é importante promover a igualdade social, para que as oportunidades de aprendizagem sejam mais semelhantes para todos.
Em termos mais específicos, o Governo português já implementou incentivos financeiros para os jovens continuarem a estudar, por exemplo, financiando bolsas de estudo e estágios remunerados.
Além disso, também há apoios para os jovens em risco de abandono escolar, visando reduzir as possibilidades de isso acontecer.
A Ação Social Escolar destina-se a garantir que as famílias com maiores dificuldades financeiras possam manter os seus filhos na escola durante a escolaridade obrigatória, pelo menos. Neste âmbito, enquadra-se também o passe escolar gratuito.
Portugal caminhou muito desde os tempos em que a taxa de abandono escolar andava nos 50%! E não foi assim há tanto tempo. Em cerca de duas décadas, o país deu passos grandes para resolver um problema que afeta cada um dos implicados, mas também todos nós enquanto sociedade.