Em Portugal, existem já 13 mil pessoas com o estatuto de cuidador informal. Embora se tenham feito já vários avanços relativamente a esta questão, há necessidade de maiores apoios, incluindo o do descanso do cuidador.
Cuidadores informais vivem 24 horas por dia, sete dias por semana, durante os 365 dias do ano, em prol do cuidado do outro. São pessoas que deixam de viver livremente as suas vidas para cuidar de um familiar próximo que está doente e incapacitado de ter uma vida autónoma.
Muitos dos cuidadores sofrem de burnout, um esgotamento físico e emocional, o qual advém do excesso de horas em contínuo trabalho e estado de vigilância. O burnout nestes casos é conhecido como síndrome do cuidador.
Apesar de todos reconhecermos, socialmente, o valor destas pessoas, ainda há carência de legislação que lhes garantam direitos básicos, como o do descanso. No entanto, o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social está a trabalhar no sentido de incluir o descanso do cuidador informal no Orçamento de Estado (OE) de 2024.
Entenda mais sobre o que é a síndrome do cuidador, quais os sintomas associados, as mudanças previstas com o novo OE, assim como o que os cuidadores podem fazer para evitar o burnout.
Síndrome do cuidador: o que é?
A síndrome do cuidador é um estado de esgotamento, ou burnout , resultante de uma exposição prolongada ao stress e à elevada carga de responsabilidades. Esta síndrome é caracterizada pela exaustão emocional, diminuição da realização pessoal, causando sérios danos à saúde mental do cuidador (formal ou informal).
O cuidador, principalmente o cuidador informal, assume o cuidado de outra pessoa de forma solitária, na maior parte das vezes, assumindo um papel central na vida do cuidado e, consequentemente, tomando para si a responsabilidade em tudo o que envolve a vida da pessoa cuidada.
Este excesso de responsabilidades leva a uma sobrecarga do cuidador, não só pelas grandes exigências que envolve o cuidar de uma pessoa, mas também pela responsabilidade de gerir os recursos pessoais e materiais, muitas vezes escassos.
Quando esta situação se prolonga no tempo, o cuidador pode desenvolver:
Ansiedade e/ou depressão
Preocupação constante
Irritabilidade
Fadiga (física e mental)
Tendência ao isolamento
Agressividade / reações exageradas
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Síndrome do cuidador: sintomas
O esgotamento nos cuidadores, ou a síndrome do cuidador, pode tornar-se evidente quase que de um dia para o outro, pois muitas vezes o cuidador vive tão intensamente a vida da pessoa cuidada que acaba por deixar para segundo plano o seu próprio bem-estar, assim como a atenção na sua própria vida e estado de saúde.
Assim, na maior parte dos casos, os cuidadores só se apercebem do estado de saúde mental quando já se encontram num estado de burnout, estado esse que dificulta o cuidado do ente querido.
Alguns dos sintomas de síndrome do cuidador são:
Cansaço constante (mesmo nos dias em que teve uma noite de sono tranquila)
Dores de cabeça e tonturas
Pouca energia
Gastrite
Dores nas articulações
Hipertensão
Insónias
Falta de interesse em atividades que antes gostava
Desprezo pelas próprias necessidades
Isolamento social (amigos e família)
Dificuldade em descontrair
Nervosismo e irritação (também em relação à pessoa cuidada)
Perda ou ganho de peso
Apatia
Ansiedade e/ou depressão
Baixa autoestima
Estes são sinais claros de que o cuidador se encontra numa situação frágil e carece de cuidados. Além destes, é possível que o cuidador deixe de sentir que cuidar de outra pessoa é uma tarefa gratificante, pode sentir que está a magoar a si mesmo ou à pessoa cuidada, e também é comum que fique doente com maior frequência.
Se é cuidador informal (ou formal) e apresenta estes sinais, é importante procurar ajuda de um profissional de saúde capaz de estabelecer um diagnóstico e indicar-lhe um tratamento (se for necessário) e quais as medidas a tomar para evitar um agravamento da situação.
Teste para identificar a síndrome do cuidador
Se é cuidador informal, ou formal, e tem alguns dos sinais acima citados, faça o teste seguinte para avaliar o seu estado de saúde mental e perceber se sofre, ou não, de síndrome do cuidador.
Responda às seguintes questões de múltipla-escolha:
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Quase sempre |
Muitas vezes |
Às vezes |
Raramente |
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Tem uma boa noite de sono (pelo menos sete horas)? |
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Fica irritado com os outros? |
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Sente-se feliz? |
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Realiza atividades de lazer? |
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Sente que, por causa do tempo que tem de estar com o seu familiar, não tem tempo suficiente para si? |
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Sente que a sua situação atual afetou de forma negativa a sua relação com amigos e familiares? |
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Sente-se stressado por ter de cuidar do seu ente querido e ter de assumir outras responsabilidades, como trabalho e casa? |
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Sente que perdeu o controlo da sua vida desde que surgiu a dependência do seu familiar? |
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Acredita que a sua saúde foi afetada desde que começou a cuidar do seu familiar? |
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Sente-se esgotado e sobrecarregado? |
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Atribua pontos às suas respostas:
Quase sempre – 4 pontos
Muitas vezes – 3 pontos
Às vezes – 2 pontos
Raramente – 1 ponto
Some os seus pontos. Caso a sua pontuação seja superior a 20 pontos, é muito provável que esteja numa situação de burnout, ou síndrome de cuidador. Procure ajuda profissional.
Descanso do cuidador informal para evitar o burnout
O cuidador informal está, na maior parte dos casos, sozinho e sem apoio no cuidado a um ente querido. Além de um desgaste enorme pela grande responsabilidade que tem nos seus “ombros”, não há espaço para que o cuidador informal consiga ter uma vida social saudável e tempo para se dedicar a si mesmo.
Nesse sentido, estabelecer, pelo menos, um dia de descanso é fundamental. Este dia de descanso pode ser usado para dormir (uma vez que a maioria dos cuidadores não consegue ter uma boa rotina de sono), para tratar de assuntos pessoais, passear e dedicar-se a hobbies.
É fundamental que os cuidadores tenham um equilíbrio entre as suas vidas e necessidades pessoais e o seu papel como cuidadores. Portanto, não hesite em pedir (e aceitar) ajuda de outros familiares, amigos, ou entidades sociais.
Ter alguém de confiança com quem podem contar é essencial para que os cuidadores possam desabafar e encontrar algum conforto.
Se tiver possibilidade, contrate um cuidador profissional para assegurar o seu dia de descanso. Pode fazer uma grande diferença na sua vida.
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Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social trabalha no descanso do cuidador
Depois de vários avanços no estatuto do cuidador informal, Ana Sofia Antunes, Secretária de Estado do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, afirmou que está a ser trabalhado com afinco o descanso do cuidador no OE2024. Segundo a mesma, o descanso prevê três situações diferentes, e não apenas a possibilidade de descanso.
Sendo aprovada a portaria, os cuidadores informais vão ter a possibilidade de recorrer à Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) com custos mais acessíveis, ou podem optar por deixar o familiar numa Estrutura Residencial para Idosos (ERPI).
Está prevista, ainda, a criação de bolsas de cuidadores, para que possam substituir os cuidadores informais que precisem de um período de descanso.
Descubra ainda: Qual a diferença entre cuidados paliativos e cuidados continuados?
Como pedir o descanso do cuidador?
Para pedir o descanso do cuidador (disponível atualmente apenas no âmbito da RNCCI), contacte o seu médico de família ou, caso não tenha, qualquer outro profissional dos Cuidados de Saúde Primários.
O profissional vai sinalizar o seu caso, sendo posteriormente feita uma proposta de referenciação, a qual vai ser enviada para validação da Equipa Coordenadora Local (ECL).
Se é cuidador informal ou formal e sente que precisa de ajuda, não deixe de expor o seu caso ao seu médico de família. É importante cuidar de si para poder (e conseguir) cuidar do outro. Não deixe que a síndrome do cuidador tome conta da sua vida e adote as estratégias acima para evitar o desenvolvimento de burnout.