O dia 14 de março é o Dia da Incontinência Urinária, um problema que afeta principalmente idosos (aproximadamente 30% de idosas e 15% de idosos), mas pode afetar pessoas de diferentes faixas etárias.
Este é um problema que se caracteriza por perda involuntária de urina, causando grande desconforto às pessoas que sofrem com incontinência, mas também que afeta a qualidade de vida dos seus cuidadores e familiares próximos, uma vez que a vida se condiciona um pouco perante esta situação.
Apesar da incontinência ser mais comum em pessoas idosas, a verdade é que esta não é uma condição natural e não advém do envelhecimento. Independentemente de ser uma situação temporária ou crónica, existe sempre forma de aliviar o problema.
Veja aqui o que é a incontinência urinária, como esta afeta homens e mulheres, quais os sintomas e sinais de alerta e o que pode fazer para melhorar o problema.
O que é a incontinência urinária?
A incontinência urinária é a perda de urina involuntária e geralmente é causada pelo enfraquecimento dos músculos do pavimento pélvico. Também é um problema comum quando se verifica uma hiperatividade da bexiga não controlada.
Esta é uma situação patológica e, apesar de ser um problema que afeta bastantes pessoas e que tem impactos muito fortes na qualidade de vida, só aproximadamente 10% das pessoas recorre a um aconselhamento médico.
Embora seja mais comum em mulheres idosas, este é um problema que pode afetar pessoas de qualquer faixa etária e género. Aproximadamente 200 milhões de pessoas sofrem de incontinência urinária em todo o mundo, das quais 600 mil em Portugal (1 em cada 5 pessoas com mais de 40 anos).
Tipos de incontinência urinária
Apesar de ser olhada pela maior parte das pessoas como um único problema, é importante referir aqui que a incontinência urinária pode dividir-se em sete tipos distintos, os quais têm causas diferentes para a perda de urina involuntária.
Incontinência urinária de urgência (IUU)
Este tipo de incontinência é causado por contrações da bexiga anormais e involuntárias. Normalmente, não há contração do músculo da bexiga até que estejamos prontos para urinar.
No entanto, quando existem contrações anormais (que acontecem sem conseguirmos prever), a urina é “empurrada” para a uretra e podem-se verificar perdas de urina.
A pessoa sente uma vontade urgente de urinar e não a consegue controlar. É comum em pessoas com infeções urinárias, por exemplo.
Incontinência urinária de esforço (IUE)
Este tipo de incontinência verifica-se quando há um esforço físico (pode ser exercício físico, mas também espirros ou tosse). O esforço vai colocar pressão na bexiga e a uretra não consegue manter-se encerrada, levando a perdas de urina.
Assim, esta incontinência é causada pelo enfraquecimento ou por uma anomalia da uretra ou pavimento pélvico.
Incontinência urinária mista (IUM)
Aqui verificam-se sintomas de incontinência urinária de esforço e de urgência em simultâneo. É importante perceber quais os sintomas predominantes, mas o tratamento deve ser direcionado para ambos os tipos de incontinência.
Incontinência urinária funcional
Este é um tipo de incontinência restrito a pessoas com mobilidade limitada ou com doença neurológica. As pessoas reconhecem a necessidade de urinar, mas não conseguem chegar a tempo à casa de banho.
Incontinência urinária de refluxo
Este tipo é causado por uma sobredistensão da bexiga hipotónica (bexiga com baixa atividade).
Incontinência urinária por extravasamento, transbordamento ou regurgitação
Este tipo de incontinência verifica-se quando o volume de urina na bexiga é muito grande, ao ponto de a pressão feita não conseguir ser travada no esfíncter, causando perdas involuntárias de urina.
Enurese (incontinência urinária noturna)
Este tipo de incontinência só se verifica durante o sono. É o tipo mais comum de incontinência em crianças (aproximadamente 15% das crianças sofrem desta condição aos 5 anos de idade).
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Quais as causas da incontinência urinária?
As causas da incontinência urinária variam muito, levando-nos, por isso mesmo, a uma classificação deste problema em sete diferentes tipos. Podemos apresentar uma causa apenas, ou mais do que uma causa (incontinência mista), entre elas:
Enfraquecimento dos músculos pélvicos ou esfíncter (mais comum em mulheres como resultado do parto)
Bexiga hiperativa (quando há uma superatividade dos músculos da parede da bexiga, ou quando estes apresentam espasmos; mais comum em crianças e adultos jovens)
Enfraquecimento dos músculos da parede da bexiga
Obstrução da saída da bexiga (acontece quando existe algo que bloqueia o trajeto de saída da urina; mais comum em homens de meia-idade)
Volume de urina muito grande (mais comum em pessoas diabéticas, pessoas que ingerem álcool ou bebidas com cafeína em excesso e pessoas que usam diuréticos)
Má coordenação dos músculos da parede da bexiga e o esfíncter
Problemas de mobilidade
Problemas neurológicos
Causas da incontinência urinária feminina
As mulheres são as que mais sofrem de incontinência urinária, embora não seja um problema restrito a elas. Geralmente, as causas de incontinência urinária feminina mais comuns são o enfraquecimento da musculatura pélvica e a hiperatividade da bexiga.
A incontinência de esforço (IUE) é muito comum, principalmente em mulheres que tenham tido gémeos (ou mais do que dois filhos no mesmo parto), que sofram de excesso de peso ou que tenham prolapsos genitais (quando se verifica uma descida do útero, uretra, bexiga ou reto para o canal vaginal).
Também é o tipo de incontinência mais comum em mulheres que tenham feito algum género de cirurgia pélvica, como uma histerectomia (remoção do útero), e em mulheres grávidas (neste caso, a incontinência pode ser transitória, embora existam casos em que permaneça uma situação crónica).
A IUE não é frequente em mulheres jovens, que não apresentem excesso de peso e sem partos, pois a musculatura pélvica está ainda bastante preservada.
Causas da incontinência urinária masculina
A incontinência urinária masculina tem como principais causas a bexiga hiperativa e cirurgia prostática. Neste último caso, a incontinência é mais comum numa primeira fase pós-cirurgia, principalmente aos homens sujeitos a prostatectomia radical (remoção da glândula prostática por completo e, na maior parte dos casos, remoção das vesículas seminais).
Lembramos que este é um problema que pode acometer qualquer pessoa e, apesar de estas serem as causas mais comuns da incontinência urinária masculina, não são as únicas.
Quais os sinais e sintomas de incontinência urinária?
Apesar da incontinência urinária não ser um problema que cause risco de vida, esta pode ter um impacto negativo na qualidade de vida, levando as pessoas a deixarem de realizar uma série de atividades por vergonha e medo.
Assim, estar atento aos sinais e sintomas de incontinência urinária mostra-se muito importante, uma vez que a procura por tratamento precoce aumenta as probabilidades de sucesso.
Necessidade frequente de urinar
Perda de força do jato urinário
Perdas de urina (mesmo que apenas algumas gotas)
Sensação de bexiga cheia logo depois de urinar
Quando deve procurar um médico?
Se apresentar qualquer um dos sintomas acima mencionados, deve procurar o seu médico de família e expor a situação. Ele irá pedir-lhe os exames clínicos necessários para um bom diagnóstico e proceder ao tratamento.
Embora muitas pessoas acreditem que a incontinência urinária é normal com o avançar da idade, esta não tem de ser uma realidade.
Consulte sempre o seu médico quando tiver algum problema de saúde que prejudique a sua qualidade de vida e procure o melhor tratamento para o seu caso em particular.
Como é feito o diagnóstico?
Geralmente, o diagnóstico de incontinência urinária, tanto em homens, como em mulheres, inclui fazer um diário da atividade da bexiga. Vai registar a quantidade de líquidos que ingere, quando urina, a quantidade de urina, assim como o número de ocorrências de incontinência.
Nas mulheres é feito, também, um exame ginecológico e é feita uma avaliação da tonicidade dos músculos pélvicos. Nos homens é, geralmente, feito o toque digital da próstata para perceber se existe, ou não, um aumento do volume prostático.
Outros exames são pedidos a homens e mulheres. São eles:
Estudos laboratoriais de urina e sangue para avaliar a função renal, assim como para despistar situações de infeção urinária
Ecografia pélvica para avaliar a presença de alterações na pelve
Urofluxometria, com medição do resíduo pós-miccional, para avaliar a quantidade de urina que permanece na bexiga depois de urinar
Cistoscopia para visualizar o trato urinário inferior e detetar possíveis anomalias
Cistograma para avaliar a bexiga
Teste de stress, aplicando-se pressão abdominal repentina
Teste urodinâmico para determinar a pressão que o músculo da bexiga e o esfíncter conseguem aguentar
Veja também: O que inclui um check up médico e quando deve fazê-lo?
Qual o tratamento para a incontinência urinária?
Depois de feito o diagnóstico e enquadramento do tipo de incontinência urinária, o médico prescreve o tratamento para as causas específicas e recomenda algumas medidas gerais para reduzir a incontinência.
Quando a causa da incontinência é a toma de um determinado medicamento, o médico pode proceder à sua troca ou alterar a dosagem.
Podem ser receitados medicamentos para relaxar os músculos da parede da bexiga e para aumentar a tonicidade do esfíncter, mas estes devem ser usados como um complemento às seguintes medidas gerais:
Realizar exercícios para fortalecer os músculos pélvicos
Treinar a bexiga
Modificar a ingestão de líquidos - limitar-se a determinados horários (evitando beber três ou quatro horas antes de ir dormir ou antes de sair, por exemplo) e evitar líquidos que provoquem irritação na bexiga (como, por exemplo, bebidas com cafeína)
Tratamento para incontinência de urgência
No caso da incontinência de urgência, antes de prescrever qualquer medicamento, o médico sugere realizar exercícios de Kegel, treino da bexiga e técnicas de relaxamento. A ideia é que a pessoa tente ficar relaxada quando sente uma vontade urgente em urinar, ou que aperte os músculos pélvicos.
Depois de tentar estes procedimentos, podem ser receitados oxibutinina (adesivo, gel ou comprimido) e tolterodina, ou medicamentos mais recentes, como fesoterodina, tróspio, mirabegrona, darifenacina e solifenacina.
Caso nenhum dos tratamentos surta efeito, pode tentar-se tratamentos como estímulos elétricos dos nervos sacrais, instilação de produtos químicos na bexiga ou cirurgia.
Tratamento para incontinência de esforço
Tal como o tratamento para a incontinência de urgência, começa-se com o treino da bexiga e os exercícios de Kegel. Ademais, pede-se que o paciente evite fazer esforços físicos e, quando se justifique, que este perca peso.
Quando estas medidas não surtem efeito, pode recorrer-se ao tratamento com duloxetina. No caso das mulheres que revelem incompetência da saída da bexiga, pode receitar-se pseudoefedrina. Já quando o paciente apresenta incontinência mista, é possível usar-se imipramina.
Quando existe um quadro de uretrite atrófica, ou vaginite, o médico pode aconselhar o tratamento com creme de estrogénio.
Quando nenhum dos procedimentos é eficaz, pode ser benéfico recorrer à cirurgia.
Tratamento para incontinência por transbordamento
O tratamento deste tipo de incontinência varia muito de acordo com a sua causa, uma vez que pode estar relacionado a uma obstrução da saída da bexiga, a um enfraquecimento dos músculos da parede da bexiga ou a ambos os fatores.
Quando há obstrução da saída da bexiga, pode ser recomendada a cirurgia, podem ser receitados medicamentos para doença prostática, ou pode ser estimulada a colocação de um stent.
Quando a incontinência está associada ao enfraquecimento dos músculos da parede da bexiga, pode optar-se por colocar um cateter de bexiga (de forma permanente ou intermitente).
Além destes procedimentos, o paciente é encorajado a adotar algumas medidas adicionais, como urinar novamente depois da micção, realizar pressão no fim da micção ou fazer pressão no fundo da barriga no final da micção. Podem, ainda, usar-se estímulos elétricos para ajudar no esvaziamento da bexiga.
Como prevenir as perdas de urina involuntárias?
A incontinência urinária pode ser prevenida adotando algumas medidas simples. No entanto, vale dizer que estas medidas não previnem todos os tipos de incontinência e, portanto, se já as tem como parte da sua rotina e, mesmo assim, apresenta perdas de urina, deve procurar o seu médico de família para uma avaliação adequada.
Para evitar episódios e desenvolvimento de incontinência urinária, deve:
Ter uma dieta saudável
Beber água em quantidades adequadas (uma vez que a desidratação irrita a bexiga e pode levar à incontinência)
Evitar prisão de ventre, ingerindo uma boa quantidade de fibras (presente nas frutas e legumes)
Ter o peso controlado
Exercitar os músculos pélvicos, fazendo exercícios de Kegel
Evitar reter a urina por muito tempo e muitas vezes, pois esta atitude pode comprometer os músculos da bexiga
Esvaziar completamente a bexiga sempre que urinar
Quais os melhores exercícios para incontinência urinária masculina e feminina?
Como vimos, todos os tipos de incontinência urinária (masculina e feminina) são primeiramente abordados com exercícios e algumas medidas gerais que tornem esta condição mais branda ou, em alguns casos, até resolvam a situação, evitando-se o recurso a medicamentos e procedimentos cirúrgicos.
Veremos agora os exercícios mais eficazes.
Treino da bexiga
O treino da bexiga é útil tanto para homens como para mulheres, evitando a incontinência urinária masculina e feminina, assim como melhorando os sintomas em quem já sofre desta condição.
Este treino consiste em criar uma rotina fixa para urinar, tendo horários para ir à casa de banho (a cada duas ou três horas). Além disso, estipulam-se horários em que se tenta reduzir a urgência em urinar, adotando técnicas de respiração e relaxamento.
O horário é alargado gradualmente à medida que o paciente revela uma maior capacidade de retenção da urina.
Exercícios de Kegel
Estes exercícios têm como objetivo exercitar os músculos pélvicos e mostram-se muito eficazes, principalmente em quem sofre de incontinência urinária de esforço.
A ideia é contrair os músculos que ficam à volta da uretra e do reto com força, inicialmente durante um a dois segundos, seguido de relaxamento durante 10 segundos. Deve repetir-se 10 vezes seguidas. O exercício completo deve ser realizado três vezes por dia.
O tempo de contração dos músculos é aumentado gradualmente, até que consiga aguentar cerca de 10 segundos de cada vez.
Técnicas de distração
Algumas técnicas de distração também são úteis quando se tem uma vontade urgente em urinar. Uma das mais eficazes é contrair muitas vezes, e rapidamente, os músculos pélvicos. Em alternativa, pode respirar profundamente, fazendo com que estes músculos fiquem relaxados.
Como cuidar de um idoso com incontinência urinária?
Se tem alguém da família a seu cargo com incontinência urinária, deve tomar alguns cuidados adicionais, principalmente no que diz respeito à higiene diária.
O contacto da urina com a pele pode provocar dermatite associada à incontinência (DAI), chamada de dermatite perineal. Esta causa erupções cutâneas que podem ser muito desagradáveis.
Nesse sentido, o cuidador deve ter especial atenção em manter a pele dos idosos o mais seca e limpa possível, trocando a fralda com regularidade e/ou levando os idosos à casa de banho mais vezes durante o dia.
Saiba mais em: Higiene do idoso: cuidados importantes a ter
Estes cuidados devem ser redobrados quando o idoso é acamado ou sofre de demência (ou outra doença neurológica, como Alzheimer ou Parkinson).
Os banhos devem ser diários em idosos com incontinência para evitar infeções urinárias e outras infeções. No caso de idosos acamados, esta pode ser uma atividade exigente, mas é necessária.
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A incontinência urinária é uma realidade, mas não tem de ser vista como algo normal ou algo que tem de suportar. Existem medidas e tratamentos que ajudam a controlar e/ou resolver esta situação. Procure sempre a ajuda do seu médico e nunca se automedique.